Conselho permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos; entidades médicas apontam que vai ser derrubada

Conselho permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos; entidades médicas apontam ilegalidade


Associações médicas criticam a medida, classificando-a como "banalização do atendimento médico". O Conselho Federal de Farmácia (CFF) já teve uma resolução semelhante derrubada pela Justiça do Distrito Federal.



O que diz a nova resolução?


O Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou uma resolução que autoriza farmacêuticos a prescrever medicamentos, incluindo aqueles que exigem receita médica. A norma, divulgada no Diário Oficial na segunda-feira (17), entra em vigor no próximo mês.


Segundo o CFF, a prescrição de medicamentos controlados estará restrita a farmacêuticos com Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em Farmácia Clínica. Esse registro, instituído este ano, será concedido a profissionais que concluírem cursos de qualificação em áreas específicas.


🔴 Contexto: Em 2024, o CFF tentou implementar uma medida semelhante, mas ela foi derrubada pela Justiça Federal do Distrito Federal. Agora, o conselho emitiu uma nova resolução, que especialistas acreditam poder ser suspensa antes mesmo de entrar em vigor.



Reações das entidades médicas


A medida gerou forte reação de associações médicas, que questionam a capacitação dos farmacêuticos para prescrever medicamentos e alegam que a atividade não faz parte das atribuições legais desses profissionais.


O Conselho Federal de Medicina (CFM) classificou a resolução como "absolutamente ilegal". Francisco Eduardo Cardoso, conselheiro do CFM, afirmou:


“Deveriam ter vergonha de publicar uma resolução como essa. Eles vão ter que responder na Justiça por editarem uma norma que coloca em risco a saúde da população.”


A Associação Paulista de Medicina (APM) também se manifestou, destacando que a prescrição de medicamentos exige anos de formação médica e residência. Segundo a APM, a medida representa uma "silenciosa invasão de profissionais não habilitados no ato médico".



O que a resolução permite?


A resolução CFF Nº 5 DE 20/02/2025 autoriza farmacêuticos a:


  • Prescrever medicamentos, incluindo os de venda sob prescrição;
  • Renovar prescrições previamente emitidas por outros profissionais de saúde;
  • Realizar exames físicos, solicitar e interpretar exames para avaliar a efetividade do tratamento.


O CFF justifica a medida com base na competência do farmacêutico de traçar o perfil farmacoterapêutico do paciente, o que, segundo o conselho, inclui a prescrição de medicamentos.



Especialistas questionam a legalidade


Henderson Furst, advogado especialista em Bioética e Professor da Faculdade Albert Einstein, explica que o perfil farmacoterapêutico não inclui a prescrição de medicamentos.


"O perfil diz respeito a entender a interação entre medicamentos que o paciente já toma. Por exemplo, se há risco de interação entre remédios prescritos por diferentes médicos. Isso não significa que o farmacêutico pode trocar ou prescrever medicamentos por conta própria."

Furst também levanta questões práticas:


"Se o farmacêutico solicitar exames, como o plano de saúde ou o SUS vão aceitar? Há uma série de lacunas legais que precisam ser resolvidas."



Disputa por espaço no mercado de saúde


A resolução do CFF é mais um capítulo na disputa por espaço no mercado de saúde no Brasil, semelhante ao que ocorre em áreas como estética e odontologia. Maria Fernanda Salomão, professora de farmácia da FMU, defende a medida:


"A prescrição farmacêutica já acontece em outros países, como a Austrália. Farmacêuticos e médicos deveriam trabalhar juntos, pois há muitos erros de prescrição médica. Quanto mais profissionais aptos, melhor para a saúde do paciente."


Por outro lado, críticos argumentam que a medida pode colocar a segurança do paciente em risco, já que a responsabilidade pelo diagnóstico e tratamento recairá sobre o farmacêutico.



O que diz a lei?


A lei que regulamenta a profissão de farmacêutico (Lei nº 13.021/2014) não menciona diretamente a prescrição de medicamentos. O CFF alega que a resolução busca regulamentar pontos já previstos na legislação, como o estabelecimento do perfil farmacoterapêutico.


No entanto, especialistas e a Justiça entendem que o perfil farmacoterapêutico se refere ao acompanhamento do uso de medicamentos, e não ao diagnóstico ou prescrição.



Próximos passos


A resolução deve enfrentar novos desafios judiciais, já que a Justiça do Distrito Federal já derrubou uma norma semelhante em 2024. Enquanto isso, a discussão sobre o papel dos farmacêuticos na prescrição de medicamentos continua acalorada, refletindo uma disputa que vai além da saúde pública e envolve interesses mercadológicos.



A ideia de permitir que farmacêuticos prescrevam medicamentos tem potencial para melhorar o acesso à saúde, especialmente em locais com poucos médicos. No entanto, é crucial que isso seja feito com limites claros e sob supervisão. Por exemplo, farmacêuticos poderiam prescrever em casos específicos, como renovação de receitas para tratamentos crônicos já estabelecidos ou em situações de emergência, mas não substituir o papel do médico no diagnóstico e na definição inicial de tratamentos.



Além disso, é essencial que haja uma regulamentação robusta, com diretrizes claras sobre os limites da prescrição farmacêutica e mecanismos de fiscalização para garantir a segurança dos pacientes. A colaboração entre médicos e farmacêuticos, em vez de uma disputa por espaço, seria o caminho ideal para garantir um sistema de saúde mais eficiente e seguro.



E você, o que acha?
A prescrição de medicamentos por farmacêuticos pode ampliar o acesso à saúde ou representa um risco para os pacientes? Deixe sua opinião nos comentários!


Fonte :g1











Nenhum comentário:

Postar um comentário