Toxicologia Desafio Colaborativo

“Uma mulher de 25 anos é trazida ao serviço de emergência (SE) pela polícia após tentar invadir um mercado. Ela perdeu o emprego por ter chegado atrasada e ter cometido furto, após ter desejo de ‘fumar’. Ela tem precisado de quantidades cada vez maiores de drogas para ficar ‘alta’ e tem fracassado em suas tentativas de parar de fumar. Ela tem necessidade de se drogar e, quanto não consegue, tem sonolência, depressão e hiperfagia. Quando está ‘alta’, a paciente sente euforia e sensação de energia aumentada. Suas pupilas estão amplamente dilatadas; ela está com febre baixa, taquicardia e hipertensão. A paciente relata ter perdido 13,6 kg em seis meses, de maneira não intencional. A tireoide está normal à palpação. O único achado alterado fornecido pelos exames cardíacos e pulmonar é uma taquicardia. O exame neurológico não forneceu achados significativos”.

Fonte: TOY, E. C. et al. Casos clínicos em medicina de emergência. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Adaptado).

 

Com base no quadro clínico apresentado, podemos levantar a hipótese de que a paciente está sofrendo de abuso de estimulantes, especificamente de cocaína ou metanfetaminas. Vamos analisar os principais pontos do caso:

  1. Comportamento e Histórico: A paciente tem um comportamento impulsivo e agressivo, caracterizado pela tentativa de invasão ao mercado. A perda do emprego por furtos relacionados ao desejo de fumar também sugere um comportamento compulsivo e um desespero por obter a droga.

  2. Sintomas de Abstinência: Ela apresenta sintomas típicos de abstinência de estimulantes, como sonolência, depressão e hiperfagia (aumento do apetite).

  3. Efeitos durante o uso da droga: Durante o uso da droga, ela sente euforia e uma sensação de energia aumentada, que são características clássicas do efeito dos estimulantes.

  4. Sinais Físicos:

    • Pupilas dilatadas (midríase), febre baixa, taquicardia e hipertensão são sintomas físicos frequentemente associados ao uso de estimulantes.
    • Perda de peso significativa (13,6 kg em seis meses) não intencional também é um sinal comum em usuários crônicos de estimulantes devido à supressão do apetite.
  5. Achados Clínicos:

    • O exame da tireoide está normal, o que ajuda a excluir condições como hipertireoidismo.
    • A taquicardia é o único achado alterado nos exames cardíaco e pulmonar, compatível com o uso de estimulantes.
    • O exame neurológico não revelou achados significativos, o que pode ser compatível com o uso recente de estimulantes sem complicações neurológicas imediatas.

Considerações Diagnósticas

Os sintomas descritos são muito característicos do uso de estimulantes, particularmente cocaína ou metanfetaminas, que são conhecidos por causar:

  • Euforia e aumento de energia
  • Perda de peso
  • Midríase (dilatação das pupilas)
  • Taquicardia e hipertensão
  • Mudanças de comportamento como agressividade e impulsividade
  • Sintomas de abstinência como sonolência, depressão e hiperfagia

Conclusão

A hipótese diagnóstica mais provável para esta paciente é abuso de cocaína ou metanfetaminas. A confirmação diagnóstica pode ser obtida por meio de exames toxicológicos (urina, sangue) que detectem a presença de estimulantes. Além disso, a paciente precisará de uma abordagem multidisciplinar para tratamento, que inclui manejo médico dos sintomas de abstinência, suporte psicológico e possivelmente intervenções para reabilitação de dependência química.





1) Na sua opinião, qual o diagnóstico mais provável para esse caso clínico?

A paciente está sofrendo de abuso de estimulantes, cocaína ou metanfetaminas


2) Descreva o comportamento de uma substância tóxica nos diferentes compartimentos do organismo


Absorção:A cocaína pode ser absorvida através de diferentes vias, como intranasal, intravenosa, oral e pulmonar (fumada). A via de administração influencia a rapidez e a intensidade dos efeitos.

Distribuição:Uma vez na corrente sanguínea, a cocaína é rapidamente distribuída pelos tecidos do corpo, incluindo o cérebro, onde exerce seus efeitos psicoativos. Ela atravessa facilmente a barreira hematoencefálica.

Metabolismo:A cocaína é metabolizada principalmente no fígado por enzimas como a colinesterase plasmática, resultando em metabólitos como a benzoilecgonina e a ecgonina metil éster. Alguns metabólitos podem ser ativos e contribuir para os efeitos tóxicos.

Excreção:Os metabólitos da cocaína são excretados principalmente pela urina. A detecção desses metabólitos é usada em testes toxicológicos para confirmar o uso da droga.



3) Descreva e comente o tratamento mais adequando para esse tipo de intoxicação.


Agitação e Ansiedade: Benzodiazepínicos (por exemplo, diazepam ou lorazepam) são frequentemente usados para sedação e controle da agitação. Eles também ajudam a prevenir convulsões.
Betabloqueadores seletivos (como labetalol) podem ser usados com cautela. Betabloqueadores não seletivos, como propranolol, são geralmente evitados devido ao risco de piora da hipertensão ao bloquear os receptores beta-2 vasodilatadores.


O tratamento da intoxicação por cocaína é multifacetado, abrangendo desde a estabilização inicial do paciente até intervenções a longo prazo para a recuperação e prevenção de recaídas. Abaixo está um plano detalhado de tratamento:

1. Estabilização Inicial

Avaliação e Monitoramento:

  • Avaliação rápida dos sinais vitais (frequência cardíaca, pressão arterial, temperatura, respiração).
  • Monitoramento contínuo em um ambiente de cuidados intensivos, se necessário.

Controle de Sintomas:

  • Agitação e Ansiedade: Benzodiazepínicos (por exemplo, diazepam ou lorazepam) são frequentemente usados para sedação e controle da agitação. Eles também ajudam a prevenir convulsões.
  • Convulsões: Além dos benzodiazepínicos, anticonvulsivantes podem ser usados se as convulsões persistirem.

2. Controle da Hipertensão e Taquicardia

Antihipertensivos:

  • Benzodiazepínicos são a primeira linha de tratamento para controlar a hipertensão induzida por cocaína, pois a sedação pode reduzir a pressão arterial.
  • Betabloqueadores seletivos (como labetalol) podem ser usados com cautela. Betabloqueadores não seletivos, como propranolol, são geralmente evitados devido ao risco de piora da hipertensão ao bloquear os receptores beta-2 vasodilatadores.

Outras Medicações:

  • Bloqueadores de canais de cálcio (como o diltiazem) também podem ser utilizados para controlar a pressão arterial e a taquicardia.

3. Tratamento de Complicações

Infarto do Miocárdio:

  • Aspirina para reduzir o risco de formação de coágulos.
  • Nitroglicerina para aliviar a dor torácica e melhorar o fluxo sanguíneo.
  • Heparina para prevenir a formação de coágulos adicionais.

Hipertermia:

  • Resfriamento ativo com cobertores refrigerados, ventiladores e fluidos intravenosos frios para reduzir a temperatura corporal.

4. Suporte e Reabilitação

Intervenção Psicológica:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para o uso de cocaína.
  • Grupos de Apoio: Narcóticos Anônimos (NA) e outros grupos de apoio podem oferecer suporte emocional e estratégias para evitar recaídas.

Tratamento de Dependência:

  • Programas de Desintoxicação: Oferecem um ambiente seguro para a desintoxicação sob supervisão médica.
  • Reabilitação: Programas de reabilitação a longo prazo para abordar aspectos psicológicos e sociais da dependência.

5. Prevenção de Recidiva

Educação e Aconselhamento:

  • Informar sobre os Riscos: Educar o paciente sobre os perigos do uso contínuo de cocaína.
  • Desenvolvimento de Estratégias: Trabalhar com o paciente para desenvolver estratégias para lidar com os gatilhos e evitar recaídas.

Suporte Social:

  • Envolvimento da Família: Incluir a família no processo de reabilitação pode proporcionar um sistema de apoio adicional.
  • Apoio Comunitário: Conectar o paciente com recursos comunitários que possam oferecer suporte contínuo.


O manejo da intoxicação por cocaína deve ser abrangente e individualizado, considerando tanto os sintomas agudos quanto as necessidades de longo prazo do paciente. A estabilização inicial é crítica para prevenir complicações graves e potencialmente fatais. Uma abordagem multidisciplinar, que inclui médicos, psicólogos, assistentes sociais e conselheiros de dependência, é essencial para uma recuperação bem-sucedida e sustentável. O suporte contínuo e a prevenção de recaídas são componentes chave do tratamento, uma vez que a dependência de cocaína é uma condição crônica que requer gerenciamento a longo prazo.

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